Até houve confusão, mas foi apenas em alguns pontos da Cidade de Maputo

Houve focos de manifestação nalguns pontos da Cidade de Maputo. A população colocou barricadas nas ruas, incendiaram pneus e atiraram pedras contra viaturas. A Polícia fez-se presente e repôs a ordem. Noutras cidades do país, a situação esteve completamente calma.

Estavam todos “antenados” para uma manifestação convocada por pessoas sem rosto. A manifestação podia não ter rosto, mas era para todos os moçambicanos e o seu propósito era claro: lançar um grito de socorro contra o custo de vida que só tende a ficar asfixiante.

Todos ouvimos. A Polícia, também. Deve ser por isso que, em tudo quanto é lado, havia carros da corporação posicionados para “travar” qualquer tentativa de manifestação. Podemos dizer que a estratégia quase funcionou, mas não em todos os locais.

Até às primeiras horas de ontem (quinta-feira), esteve tudo calmo, mas, depois das oito horas, em alguns pontos, houve agitação. No bairro Luís Cabral, na Cidade de Maputo, os moradores incendiaram pneus na EN4, colocaram barricadas e atiraram pedras contra viaturas.

“Começou a haver impedimento para a passagem de carros. Colocavam pneus no meio da estrada e atiravam pedras para as viaturas. Não podiam passar carros. Alguns autocarros que iam para Matola foram obrigados a interromper a marcha”, descreveu Artur Pedro, morador do bairro Luís Cabral, na Cidade de Maputo.

A manifestação era isolada, mas os motivos para a sua convocação são abrangentes: o alto custo de vida no país. “A população está a tentar ver se o Governo pode ouvir. A vida que estamos a levar, agora, não dá. A criança completa 10 anos sem comer batata porque o óleo está caro. Quem trabalha como doméstica, recebe quatro mil Meticais. Quanto custa o “chapa” (transporte semi-colectivo)?”, questionou, retoricamente, Tina Fabião, acrescentando que a população está a tentar ver se, manifestando, “o Governo pode ouvir”.  

E mais: “as coisas estão muito caras e nós não aguentamos mais. O óleo custa mil e alguns centavos. Batata está cara. Eu já estou cansada”, disse Jéssica Filipe, moradora de Luís Cabral, num tom revoltado.

No bairro à berma da EN4, a manifestação condicionou, temporariamente, a circulação de viaturas. E foi preciso intervenção da Polícia para garantir a mobilidade de viaturas. Algumas tiveram, mesmo, que ser escoltadas.

Para dispersar a população e evitar que a situação tomasse outras dimensões, a força policial disparou para o ar e lançou gás lacrimogéneo. No meio da confusão, houve detidos acusados de criar desordem.

Os agentes da PRM entraram, também, para o interior do bairro e, de casa em casa, recolheram pneus. A Polícia da República de Moçambique ficou no local de plantão para abortar qualquer tentativa de manifestação e a situação voltou à normalidade.

Em Malhazine, ainda na capital do país, a Polícia também recolheu pneus por entender que são instrumentos de desordem. “No período por que o país atravessa, presumimos que que os pneus na via pública não estão para ser comercializados. São reciclados, estragados que nós, a Polícia, presumimos que estão para ser usados para outros fins. Por isso, optamos por os recolher para outro sítio”, justificou Samuel Nhavene, agente da PRM na Cidade de Maputo.  

Mas não houve agitação em todo o lado. Nalgumas avenidas, ruas e nos terminais de transportes de passageiros da capital do país, o ambiente esteve calmo. “O dia está muito calmo. Não há muita gente na rua e os carros também são escassos. Em dias normais, o terminal de Anjo Voador (baixa da Cidade de Maputo) estaria lotada”, referiu Armando Guambe, munícipe de Maputo. 

Para os munícipes, o ambiente esteve calmo, mas, para os poucos transportadores que se fizeram à estrada, o dia era atípico para o negócio. “Não há negócio porque há poucos passageiros. Eu saí de casa às 04 horas, mas, até às 09h, não tinha feito nem 10% da receita. A situação não está boa”, queixou-se Orlando Sitoe, transportador que faz a rota Baixa–Praça dos Combatentes.

E as queixas são de toda a classe. “Abasteci combustível de 500 Meticais e só tive cinco litros. Como é que vou trabalhar assim? Eu vou ter que arrumar o carro porque não dá para continuar”, lamentou Luís Fernando, transportador que faz a rota Baixa–Xipamanine.   

Ao mesmo cenário assistiu-se no Zimpeto e Albazine por onde a nossa equipa de reportagem passou. Ao cair da tarde, a manifestação chegou à Praça dos Combatentes. A Polícia disparou e lançou gás lacrimogéneo contra os vendedores informais. Ninguém sabe explicar o motivo.

As cidades de Tete, Pemba, Inhambane e Beira estiveram calmas e as três últimas sob forte contingente policial.