Cabo Delgado: Mueda regista novos incidentes violentos envolvendo insurgentes



                          DW África

 Novos confrontos são registrados desde sexta-feira no distrito de Mueda. Insurgentes estariam a afastar-se da costa de Cabo Delgado, gerando incidentes violentos cujo número de vítimas ainda é incerto.

Mueda registou novos confrontos entre jihadistas e militares das forças conjuntas em Cabo Delgado na última terça-feira (16.11). A informação foi confirmada por fontes ligadas às organizações da sociedade civil na província.   

Os confrontos da semana passada, registados nos dias 12 e 13 de novembro, resultaram em cerca de 40 pessoas presas, mortas ou desaparecidas.

As informações desencontradas divulgadas tanto pelo "Estado Islâmico" quanto timidamente por fontes militares tornam imprecisa a apuração dos danos causados a moradores, militares da força conjunta e jihadistas. 

Fontes das organizações da sociedade civil em atividade na província confirmam que, na última segunda-feira (15.11), militares da missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique (SAMIM, na sigla em inglês) ainda vasculhavam a área do confronto ocorrido na semana passada no distrito. Segundo as mesmas fontes, outro incidente envolvendo as forças conjuntas e os insurgentes ocorreu no dia seguinte.

O chamado "Estado Islâmico Província da África Central" (ISCAP) reivindica a morte de quatro "cruzados leais ao Exército de Moçambique" neste incidente, segundo publica a consultora em segurança Jasmine Opperman na sua conta no Twitter.

Milícias em Mueda

Nos últimos dias, o distrito de Mueda surgiu com mais intensidade no mapa do conflito em Cabo Delgado.

Segundo ativistas que acompanham a ação jihadista na região, isso se deve à presença e à ação das forças conjuntas nos distritos da zona costeira da província, o que forçou os insurgentes a fugirem para outros distritos no interior de Cabo Delgado. 

Um relatório publicado há alguns dias pelo Instituto de Estudos de Segurança (ISS Africa) da África do Sul revela que milícias formadas por ex-combatentes de comunidades Maconde foram empregadas para bloquear o avanço dos jihadistas para o interior da província.

Segundo o autor do estudo, Borges Nhamirre, antes da chegada das tropas internacionais, perante a incapacidade das forças governamentais de travar a insurgência, mesmo com apoio militar privado, antigos combatentes da guerra de libertação mobilizaram-se para proteger as suas comunidades.

A DW África apurou que tais milícias – que não são reconhecidas pelo Estado moçambicano - foram estruturadas nos distritos de Muidumbe, Mueda e Nangade. Os grupos teriam a função de garantir a segurança das localidades, controlando a entrada e a saída de moradores e observando a movimentação de quem não é residente.

"As milícias reclamam que não têm equipamento para fazer frente aos insurgentes, mas isso não deverá mudar porque elas não têm autorização oficial, não são reconhecidos", disse uma fonte da rede de ONGs em atividade na província, que prefere não ser identificada.

Apesar de as milícias concentrem-se também em Mueda, os confrontos dos últimos dias estão a ocorrer em áreas que não seriam cobertas pelos ex-combatentes.