Moçambique: "Dívidas ocultas são o reflexo da podridão do regime que governa"

Moçambique: "Dívidas ocultas são o reflexo da podridão do regime que governa"

Segundo Edson Cortez, com o assumir da culpa dos bancos envolvidos no caso das "dívidas ocultas", torna-se díficil para a defesa dos réus em julgamento em Moçambique provar que este foi "um negócio transparente".


Os bancos Credit Suisse e VTB vão pagar multas às autoridades norte-americanas e britânicas em reconhecimento das irregularidades cometidas no escândalo das "dívidas ocultas".

As duas instituições financeiras acordaram, em 2013 e 2014, emprestar mais de 2 mil milhões de dólares às empresas ProIndicus, Ematum e MAM, numa operação que teve a empresa Privinvest como principal pivot.

Edson Cortez, diretor-executivo do Centro de Integridade Pública (CIP), diz agora que está na hora de Moçambique tomar medidas para reaver esse dinheiro e receber uma compensação pelos danos causados ao Estado. Porque uma coisa está à vista de todos, refere Cortez: "O principal objetivo" do Estado moçambicano foi "esconder o envolvimento de todo um grupo que faz parte do regime" e, com o assumir de responsabilidades do VTB e do Credit Suisse, "a defesa dos arguidos que estão a ser julgados em Moçambique fica mais fragilizada".

DW África: Afinal, o CIP tinha razão quando advogava que os moçambicanos não deveriam pagar as "dívidas ocultas"?

Edson Cortez (EC): Acho que, para os moçambicanos que ainda tinham algumas dúvidas, fica claro que estas dívidas não são para nós pagarmos. Há pessoas que são responsáveis por elas e devem pagá-las, não o povo moçambicano. Bem recentemente, nós, CIP, publicámos um relatório e mostrámos que estas dívidas já tinham custado à economia do nosso país, entre 2016 e 2019, cerca de 11 mil milhões de dólares norte-americanos, muito mais que o valor contraído por estas empresas.